terça-feira, 29 de janeiro de 2008







Queres ficar curado?

(Jo 5,6)




Queres ficar curado...
de tudo em que em ti é doença,

enfermidade espiritual,

deficiência interior?...

Eu sou o divino médico, vem até mim.

Queres ficar curado...

do teu orgulho, da tua vaidade

que se torna fumo de alienação,

do teu egoísmo

que te faz tão infeliz?

Eu sou o divino médico, vem até mim.

Queres ficar curado...

dessa tibieza espiritual,

dessa lentidão e frouxidão interior,

dessa anemia de amor,

de fé, de esperança?

Eu sou o divino médico, vem até mim.

Queres ficar curado...

dessa paralisia

que te impede de caminhar na fé,

dessa deficiência interior

que não te deixa amar

como verdadeiro cristão?

Eu sou o divino médico, vem até mim.

Queres ficar curado...

dessa tua atitude crítica e destrutiva,

desses olhos que vêem

mais o mal que o bem,

desse pessimismo

quase doentio?

Eu sou o divino médico, vem até mim.

Queres ficar curado...

dessa lepra de coração e de alma

que te faz viver amargurado e tristonho,

com sentimento de inveja,

de rancor e ciúme?

Eu sou o divino médico, vem até mim.

Queres ficar curado...

dessa tua auto-suficiência orgulhosa,

dessa tua soberba interior

que te leva

a te julgares superior aos outros,

a impores a tua opinião,

a procurares elogios?

Eu sou o divino médico, vem até mim.

Queres ficar curado...

desse teu aguilhão interior

que tanto te acabrunha,

e faz sofrer,

dessa tua má tendência

que te humilha,

desse sentimento de impureza interior?

Eu sou o divino médico, vem até mim.

Queres ficar curado...

desse teu desejo de possuir,

dessa cobiça doentia,

desse apego à riqueza,

dessa avareza pagã,

dessa preocupação desenfreada

pelos bens de consumo?

Eu sou o divino médico, vem até mim.

Queres ficar curado...

dessa tua incredulidade,

dessa fé tão mortiça,

tão calculista,

por vezes tão supersticiosa

e tão superficial,

dessa fé sem obras e sem audácia?

Eu sou o divino médico, vem até mim.

Queres ficar curado...

dessa tua falta de esperança,

desse desalento doentio,

dessa ausência de sonhos e projetos,

desse viver sem horizontes alegres,

dinâmicos, apaixonados?

Eu sou o domingo médico, vem até mim.

Queres ficar curado...

dessa tua insensibilidade aos pobres,

aos doentes, aos sofrimentos dos outros,

dessa tua repugnância

em amar algumas pessoas

e em te dedicares de alma e coração?

Eu sou o divino médico, vem até mim.

isbn85-85592-70-2













Se conhecesses o dom de Deus...
(Jo 4,10)
abririas o teu ser,
o teu coração ao amor,
terias fome e sede dele
como a terra árida e sequiosa
pela água refrescante,
ansiarias por ele como o veado
pela fonte de água.
Se conhecesses o dom de Deus...
suplicarias, com insistência,
um coração pobre, vazio, humilde,
para acolheres esse dom
e fazeres com ele festa,
unidade alegre,
comunhão transbordante.
Se conhecesses o dom de Deus...
não andarias preocupado
com ídolos vãos,
com seduções mundanas,
com alienações que esvaziam
e degradam,
mas abririas o coração ao fogo divino
que incendeia e ilumina.
Se conhecesses o dom de Deus...
deixarias que o próprio Senhor
te possuísse interiormente,
que realizasse em ti a sua morada,
que constituísse contigo
verdadeiro matrimônio espiritual.
Se conhecesses o dom de Deus...
ficarias aberto à graça
até que o fogo sagrado
te transformasse o estado de alma,
que já não mais seria alma mas fogo,
ao ponto de ser só ele a viver em ti,
em ple-ni-tu-de.
Se conhecesses o dom de Deus...
deixar-te-ias seduzir por ele
de tal modo que
não falarias de outra coisa
e darias a tua vida,
em total generosidade,
ao seu serviço.
Se conhecesses o dom de Deus...
farias dele
o teu único tesouro,
a tua pérola preciosa
e a tua única riquesa, e
não viverias preocupado,
inquieto com o mundo
e suas vaidades.
Se conhecesses o dom de Deus...
não serias senhor de ti,
imolarias a tua vontade,
oferecerias a tua liberdade,
darias morte
ao teu homem velho,
para possuires
a fonte que jorra
para a vida e-ter-na.
Se conhecesses o dom de Deus...
esquecer-te-ias de ti,
do teu comodismo,
das tuas preocupações mundanas,
para que em ti vivesse só
o Senhor da vida,
o Deus de amor.
Se conhecesses o dom de Deus...
não te pouparias sacrifícios,
a abnegações,
a despojamentos,
para que nada te impedisse
de o possuir e
alcançar em plenitude.
Se conhecesses o dom de Deus...
estarias em contínua adoração,
faminto dele,
sedento de o possuir,
estarias em louvor perene
para tributar honra e glória,
estarias em ação de graças
sem fim.
isbn972-39-0238-9

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

CRISTO, O CONSAGRADO





Mas, que significa dizer,

os cristãos foram consagrados?

Que tipo de unção receberam?

Para descobri-lo,

temos que partir de Jesus,

que é o primeiro consagrado,

aquele ao qual tendiam todas as consagrações

conferidas na antiga aliança.

O próprio nome Messias,

em grego, Christós

e para nós

Cristo,

significa Ungido,

Consagrado.

Nele ocorreu a passagem da letra

ao Espírito,

das figuras à realidade,

do externo e do temporal ao interno

e ao externo.

Jesus faz suas

as palavras de Isaias

e declara,

"O espírito do Senhor

está sobre mim, porque me ungiu"

(Lc 4,18a).

O momento ao qual Jesus se refere,

com essas palavras,

é o do batismo, no Jordão, quando

"Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o

Espírito Santo e com o poder"

(At 10,38a).

Considerado em si mesmo,

é dessa unção que deriva o nome

de Cristo:

"Cristo porque ungido pelo Pai

com o Espírito Santo",

explica Tertuliano.

Trata-se de uma ação da qual

participa toda a Trindade,

"No nome de Cristo,

subtende-se aquele que ungiu,

aquele que foi ungido e

a própria unção

com que foi ungido.

De fato, o Pai ungiu,

o Filho foi ungido,

enquanto o Espírito Santo

era a própria Unção"

(Santo Irineu).

O Pai consagra,

Jesus é consagrado e o

Espírito Santo é a consagração.

Aparece em plena luz

o papel do Espírito Santo na consagração.

É ele aquela óleo de júbilo

com o qual foi ungido

"o mais belo entre os filhos do homem"

(cf. Sl 44,8).

Mas que significa isso

e por que somente no Jordão,

aos trinta anos de idade,

Jesus foi consagrado?

Jesus estava certamente,

cheio de Espírito Santo

desde seu nascimento de Maria!

Verdade, sim, mas

essa era sua graça pessoal, incomunicável,

porque ligada a união hipostática

entre o verbo e a carne.

No batismo Jesus

é ungido ou consagrado

também como cabeça do Corpo Místico,

tendo em vista a missão que deve cumprir;

recebe a unção que deve transmitir

ao seu corpo, que é a Igreja.

É ungido como Messias,

recebe uma espécie de

investidura oficial.

Ouçamos essa profunda verdade

dos mais antigos mestres da fé

que foram os Padres da Igreja,

para não mais nos contentarmos

com mortiças práticas devocionais,

mas sermos nutridos com alimento sólido.

"O Senhor",

escreve Santo Inácio de Antioquia,

"recebeu sobre sua cabeça

uma unção profunda,

para exalar sobre a Igreja a

incorruptibilidade".

Santo Irineu esclarece,

"O Espírito de Deus desceu sobre Jesus

e o ungiu,

para que pudéssemos alcançar a

plenitude de sua unção e

sermos assim salvos".

Outro grande doutor, Santo Atanásio,

exprime a mesma convicção, dizendo:

"Era a nós que se destinava

a descida do Espírito Santo sobre

Jesus no Jordão.

Ela é a nossa santificação,

para que fôssemos partícipes da

Sua Unção, e

de nós se pudesse dizer,

'não sabeis que sois templo de Deus

e que o Espírito Santo habita em vós?'".

Se, porém...
















Cristãos, isto é, consagrados.




O batismo é o ritual


pelo qual, passamos a fazer


parte dessa unção consagrante


que na origem, quando era administrado,


geralmente, para adultos,


havia um ritual especial chamado unção,


que exprimia, particularmente,


esse significado do sacramento.


Ritual permanece até hoje a complementar


A esse ritual,



REIS, PROFETAS E SACERDOTES


... a consagração

não é jamais objetivo em si mesma.

É-se sempre consagrado

para alguma coisa, para um objetivo.

Para que somos consagrados nós cristãos?

Também isso descobrimos em Jesus,

que é a fonte

e o modelo da nossa consagração.

Jesus reuniu e cumpriu em si

a tríplice consagração:

como rei,

como profeta

e como sacerdote.


No seu batismo, Jesus foi ungido

antes de mais nada como rei

para lutar

contra satanás e instaurar o reino de Deus:

"Mas se é pelo Espírito de Deus

que expulso os demônios,

então, chegou para vós o

reino de Deus" (Mt 12,28).

No antigo testamento,

os reis eram ungidos

para empreender batalhas materiais,

contra inimigos visíveis:

os cananeus,

os filiteus, os amorreus, etc;

no novo testamento,

Jesus é ungido com unção real

para combater batalhas espirituais,

contra inimigos invisíveis:

o pecado, a morte,

e aquele

que da morte tinha o império,

satanás.

Em segundo lugar,

Jesus foi ungido como profeta

para levar a boa nova aos pobres.

Ele aplica a si,

como recordamos,

as palavras com as quais Isaias descreve

sua consagração profética:

"O espírito do Senhor repousa sobre mim,

porque o Senhor consagrou-me pela unção;

enviou-me a levar a boa-nova aos humildes"

(Is 61, 1a; Lc 4,18).


Enfim,

Jesus é ungido sacerdote,

seja na encarnação

seja no batismo,

para oferecer a si mesmo no sacrifício.

Jesus,

está escrito na carta aos hebreus,

"com um espírito eterno,

ofereceu a si mesmo a Deus

para purificar as nossas consciência

das obras mortas" (cf. 9,14).


Nós também fomos consagrados reis,

profetas e sacerdotes.

No momento da unção

com o sagrado crisma,

nos rituais que se seguem ao batismo,

a Igreja declara:

"Deus onipotente,

Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,

livrou-vos dos pecados

e vos fez renascer pela água

e pelo espírito santo,

unindo-vos a seu povo;

Ele mesmo vos consagra

com o crisma da salvação,

para que inseridos em Cristo,

sacerdote, rei e profeta,

sejais sempre

membros de seu corpo

pela vida eterna".


Como reis,

os cristãos são ungidos

para lutar contra o pecado,

para que,

"não reine mais o pecado em seu corpo mortal"

(cf. Rm 6,12),

e contra todos os inimigos espirituais,

em primeiro lugar

contra satanás,

são ungidos para o combate espiritual

(cf. Ef 6,10-20).


São consagrados

como profetas,

enquanto chamados a publicar

"as virtudes daquele que das trevas

vos chamou

à sua luz maravilhosa"

(1Pd 2,9b),

chamados a evangelizar.

Enfim são consagrados sacerdotes

para exercer seu sacerdócio real.


'Ouçamos' o que dizia,

a propósito disso, aos cristãos de seu tempo,

o Papa São Leão Magno,

"Todos aqueles que renasceram em Cristo,

conseguem dignidade real

pelo sinal da cruz.

Com a unção do Espírito Santo

são depois consagrados sacerdotes.

Não existe, portanto,

somente um serviço específico

proprio do nosso ministério,

porque todos os cristãos estão revestidos

de um carisma

espiritual e sobrenatural,

que os torna partícipes da estirpe ral

e do ofício sacerdotal.

Não é talvez função real

o fato de que uma alma, submissa a Deus,

governe o seu corpo?

Não é talvez função sacerdotal

consagrar ao Senhor uma consciência pura

e Lhe oferecer, sobre o altar do coração,

os sacrifícios imaculados do nosso culto?

Pela graça de Deus

essas funções são comuns a todos.

* ** * ** *

ISBN 85-85592-93-1



sábado, 19 de janeiro de 2008



A PRERROGATIVA DO TEMPO


"Examina com cuidado a experiência dos antepassados;

porque somos uns ignorantes das coisas de ontem,

nossos dias sobre a terra passam como a sombra."

- 8,8s-


Há uma coisa que só o tempo pode dar.

É evidente, o ter vivido.

A vida é a grande mestra.

O que ela dá é insubstituível, a experiência.

E a experiência, aliada ao discernimento,

que é dom do espírito,

se manifesta com outro precioso dom,

o da sabedoria.


Dessa sabedoria,

que vale "vale mais que as pérolas",

-jó 28,18-

encontramos elogios sem conta nas escrituras,

sobretudo no antigo testamento.

A graça era então desconhecida;

a sabedoria era,

se assim podemos dizer,

o seu substituto provisório,

o desbravador dos seus caminhos,

o seu arauto, a revelação velada do espírito,

o resumo de todos os seus dons;

"Eu, a sabedoria,

sou amiga da prudência,

possuo uma ciência profunda.

O temor do senhor é o ódio do mal.

...Meu é o conselho e o bom êxito,

minha a inteligência, minha a força.

...Amo os que me amam.

Quem me procura encontra-me."

-pr 8,12-14.17-

Se nos diz que

"A sabedoria pertence aos cabelos brancos,

a longa vida confere a inteligência;"

acrescenta que,

"Em Deus residem a sabedoria e poder;

Ele possui o conselho e a inteligência."

- 12,12s-


Parece-nos isso significar que toda a experiência da vida

pouco adiantará a nós e aos outros,

se faltar essa experiência "divinizada" em nós

pela sabedoria,

o "dom perfeito" que "vem do alto".

-tg 1,17-

Se faltar tudo o mais, com ela temos

"a riqueza e a glória, os bens duráveis e a justiça".

-pr 8,18-

Não conhecemos nós pessoas idosas,

muitas vezes destituídas de bens terrenos,

perfeitamente serenas e felizes,

porque possuem essa sabedoria?


É a sabedoria que, juntamente com a experiência,

nos ensina a colocar os bens da nossa vida

cada um no seu devido lugar,

a não nos agarrarmos demasiado ao que passa,

ao que é perecível,

a sermos objetivos quanto às coisas que nos rodeiam,

e a darmos a cada uma o seu real valor.

Então, os anos não farão de nós infelizes egoístas,

armazenadores de ninharias,

como lastimamos, tantas vezes, conhecer.


"O saber vem, a sabedoria fica".

Ele vem como vai.

Ela permanece.

Ela colore a vida,

deixa transparecer a eternidade.

"A vida, como um vitral multicor,

Tinge a alvura radiosa na eternidade".

-shelley, adonais-


Não diríamos que tinge. Mas torna acessível à nossa vista,

neste mundo, a sua resplandecência.


Nas coisas mais insignificantes,

essa sabedoria,

que se confunde com a graça,

nos faz ver algo que nos transporta ao infinito.


Vejo neste momento, um beija-flor

esvoaçando num arbusto do jardim.

Não admiro só a sua beleza, a sua fragilidade,

a sua delicadeza.

Há algo mais nesse espetáculo,

algo nesse infinitamente pequeno que canta em mim

o infinitamente grande,

que me dá uma alegria íntima, profunda,

porque tudo isso é meu

para gozar agora, nesse instante,

e nada tem a ver com os anos que já vivi, e

vai se prolongar em reverberações de beleza sem fim,

por toda a eternidade.


É essa a sabedoria,

a experiência das coisas,

o sentimento do duradouro,

a harmonia dos valores,

que os anos nos devem trazer e

que devemos transmitir aos que vêm atrás,

aos que chegarão aonde nós chegamos, e

que deverão passar adiante o facho da verdade.

Experiência a transmitir,

não como o mestre que ensina uma lição,

mas como a carícia de mão amiga,

que espera reciprocidade.


Só assim,

a experiência dos que viveram mais

será aceita pelos que viveram menos.

Estes,

seguros de terem o mundo e o presente nas mãos,

-- não o futuro, como se dava antes, --

sentem-se com maior poder e mais saber

para ir ao volante da história.

Deixemos que o provem.

Errando,

aprenderão à sua custa,

e isso os tornará mais sábios,

os dignificará e os fará crescer.

Mas não podem prescindir

da experiência dos que viveram.

Só que esta tem que ser oferecida com amor,

com estímulo, com humildade sincera.

A prepotência, a inveja,

as incriminações nunca serão aceitas.

Só o amor,

"tudo desculpa,

tudo crê, tudo espera, tudo suporta".

-1cor 13,7-


Toda a vida recebemos,

e recebemos gratuitamente.

Ainda estamos recebendo.

Mas a quarta vigília

é tempo de retribuição ao senhor,

na pessoa dos irmãos tudo o que a vida nos deu.

E ela nos deu,

assim o esperamos,

-- se procuramos viver em Deus,

pedindo sempre que

"nos indique o caminho que devemos seguir e

o que devemos fazer"

-je 42,3-

-- a experiência divinizada,

que podemos e devemos comunicar,

a maioria das vezes não por palavras,

mas por gestos de amor,

por atitudes de prudência,

pelo exemplo de toda uma vida,

lago tranquilo em que Deus se espelha.

Essa experiência levará a fazer,

mais do que a dizer.

Na convicção de que

"a noite vai adiantada, e o dia vem chegando"

-rom 13,12-,

a nossa serena preocupação será

passar "fazendo o bem"

-at 10,38-


Como é persuasivo e provocante

o pensamento,

"... e quando nada mais conseguirmos realizar,

o bem e o belo que fizemos

continuarão sem nós o seu movimento",

-marie noel, notes intimes-.

Quem poderá dizer

até onde irão as vibrações de um som?...


Temos que ir dando constantemente de nós,

como a fonte

que dá generosamente.

Oculta entre as pedras,

sem pedir retribuição. Ignora que

irá tornar-se rio caudaloso,

que irá

desembocar no infinito...

Assim temos que dar da nossa vida,

da nossa experiência, da nossa sabedoria,

tirando do nosso

"tesouro coisas novas e antigas"

-mt 13,52-


Que importam, então,

os anos,

se cada instante

está sendo semente de

eternidade,

se estamos semeando

para outros colherem,

se o grãozinho que hoje plantamos

será amanhã árvore frondosa,

para outros gozarem da sua sombra e

dos seus frutos!...


Este pequeno poema,

parafrazeando o pensamente de Goethe,

"Alma do homem,

como te assemelhas à água!"

expressa e amplia a nossa idéia:


"Ser a lagoa calma, transparente,

sem ruga, bruma ou véu,

em que se espelha o céu.


Ser poço fundo, dócil, cristalino,

que acolhe reverente

a imagem do divino...


Ser córrego liberto, generoso

que nas alturas bebe

e dá o que recebe.


Ser mar, oceano imenso, tormentoso,

dizendo à terra, em turbilhão e em grito,

seu sonho de infinito!"


Mas quereríamos esse mar da quarta vigília poderoso,

sim, mas nunca tormentoso.

É a idade da paz,

findas as agitações das outras vigílias.


O poemeto exprime um ideal para toda a vida, mas

mais ainda, para essa idade.

O marulhar das águas,

em nós,

deverá ser o próprio "espírito",

água viva que nos inundou em nosso batismo,

e no qual procuramos

viver imersos.

Será, então o tempo de dizer, como Inácio

no barco a caminho do martírio,

"Minhas paixões foram crucificadas.

Já não há em mim apetite pelas coisas da terra.

Uma água viva murmura dentro de mim,

dizendo: Vem para o Pai".


Não importa a vigília em que estamos.

Cada instante nos deve levar ao Pai.

Por Cristo.

No Espírito Divino.

Para isso nos é dada a vida.

-r128n-

domingo, 6 de janeiro de 2008

Senhor, cura-me*...

Senhor, cura-me

pois sou doente, sou pecador,
sinto em mim tantos achaques espirituais,
tantos traumas desta pobre natureza humana.


Senhor, cura-me

pois sou cego, não te vejo,
não vejo o teu amor, a tua presença,
a tua ação amorosa; sou cego porque orgulhoso
e doentiamente apaixonado.


Senhor, cura-me

porque sou paralítico,
não ando em ti,
contigo não caminho com audácia edecisão,
sou tíbio, lento, paralítico.


Senhor, cura-me

porque em mim há uma "legião" de más tendências,
de maus sintomas,
de pecados que me alienam e me acorrentam.


Senhor, cura-me

porque a vaidade que sinto em mim é doença,
é pecado que arrasta outros pecados,
é sedução que me leva a fraquejar.


Senhor, cura-me

porque sou leproso da alma e do coração;
porque não sou limpo por dentro,
nem transparente, nem são;
porque há em mim lepra interior.


Senhor, cura-me

porque, às vezes,
ainda sinto o desejo de pagar "olho por olho";
porque há em mim sentimento vergonhoso
de vingança, de rancor.


Senhor, cura-me

porque ainda sou doente de orgulho,
com sede de triunfalismo,
com buscas fúteis de elogios, de pedestal.


Senhor, cura-me

porque a violência quer, em mim, ganhar terreno;
porque há famosos de poder
satânico que cegam e ofuscam.


Senhor, cura-me

porque o meu afeto desordenado,
a minha sensibilidade doente,
a falta de maturidade humana, afetiva e sexual,
me lançam em estados doentios e pecaminosos.


Senhor, cura-me

porque o apego às riquezas,
o desejo de bens terrenos,
a ganância de ter mais e melhor,
me escravizam e me fazem doente.


Senhor, cura-me

porque esta lingua com que canto os teus louvores
está suja, critica, murmura, chegando a ser origem
de tantos males e de tantos achaques.


Senhor, cura-me

porque sinto anemia interior,
falta de ernegia espiritual,
covardia e medo, que é doença contagiosa
e causa de tanta dor e sofrimento.


Senhor, cura-me

porque este meu coração, criado para amar,
sofre de egoísmo, de ciúme e de inveja e
fica raquítico, mesquinho, atrofiado.


Senhor, cura-me

porque, reduzido pelo mundo,
não te dou o primeiro lugar na minha vida
e não sou transparente ao teu amor.


Senhor, cura-me

porque tenho uma vontade rebelde;
porque sou megalômano e auto-suficiente e
gero mal estar a minha volta.


Senhor, cura-me

do medo de estar doente,
para poder viver a alegria da tua vida,
do teu amor, da tua felicidade.


* * *(Mt 8,2)